Agora Natal

O BLOG MOSTRA A ARTE DE CRIADORES DO RIO GRANDE DO NORTE E DE PROVÍNCIAS DO BRASIL E DO MUNDO. EM ESPECIAL ARTISTAS SEM MÍDIA FÁCIL OU QUE SOFREM BOICOTE.

Minha foto
Nome:
Local: Natal, RN, Brazil

Jornalista, produtor cultural.

domingo, agosto 20, 2006

Escritores em botão...

Salim Miguel fala
de escrituras...


Nascido no Líbano, em 1924, Salim Miguel aportou no Brasil em 1927, indo morar com os pais libaneses em Santa Catarina. Passou a infância e a adolescência em Biguaçu, município da Grande Florianópolis. Seu casamento com a escritora Eglê Malheiros deu-se antes da estréia literária (Velhice e outros contos, 1951). "Ela sempre foi participante em minha obra: primeira leitora e mais exigente crítica, papel que agora se acentuou", comenta Salim. Entre 1947 e 1957, Salim Miguel participou do Grupo Sul, de Florianópolis; de 1976 a 1979, foi um dos editores da revista carioca Ficção; entre 1983 e 1991 foi diretor da Editora da UFSC; e de 1993 a 1996 dirigiu a Fundação Cultural Franklin Cascaes. Renomado jornalista, tem 25 livros publicados, entre contos, romances, crônicas e depoimentos.
MARE NOSTRUM - 2004
A VIDA BREVE DE SEZEFREDO DAS NEVES, POETA - 2005. Foto. Veja Matéria do crítico Wilson Martins, abaixo.

Escritores em botão...

Também na história das gerações,
são muitos os chamados e poucos
os escolhidos
Wilson Martins
Crítico literário

Matéria homogênea de autobiografia enquanto memória de uma geração, o romance de Salim Miguel, agora reeditado, data de 1987, recuperando mais uma daquelas generosas aventuras de escritores em botão procurando afirmar-se e reivindicar espaço na vida literária (A vida breve de Sezefredo das Neves, poeta, Rio: Record, 2005). Trata-se de vergôntea temporã do Modernismo de 1922 que, sob as espécies do Grupo Sul, floresceu em Florianópolis nas décadas de 1940/50 (Celestino Sachet. A literatura de Santa Catarina. Florianópolis: Lunardelli, 1979), tudo reconstituído a propósito dos papéis deixados pelo protagonista falecido e renascido nas referências do narrador, no caso Salim Miguel, um dos membros proeminentes do Grupo.
História em que, segundo outro poeta, os frutos não correspondem à promessa das flores: "Ainda ontem passou por mim uma das chamadas esperanças da nossa geração, em quem todos críamos. Um trapo. Mal o reconheci quando parou para falar comigo. Física e moralmente liquidado. Outro dia me telefonaram para dizer que outra promissora esperança intelectual sucumbira com um tiro na cabeça e um bilhete melancólico ... E quantos mais, quantos, se foram na voragem do tempo, deles nunca mais tivemos notícia, desistiram, sumiram, se perderam..." Sezefredo também desapareceu de circulação, morrendo como poeta, para misteriosamente ressurgir, anos depois, na figura do rico empresário S. Antero das Neves (suprema ironia!), cujo falecimento desencadeia o esforço para reconstituir-lhe a "verdadeira" personalidade, através dos manuscritos que deixou: "eu descobri alguns de nós nos escritos. Não é necessário uma profunda introspecção detetivesca para reconhecê-los. Tu estás lá – e lá estão outros que te são próximos. (...) E lá está a nossa cidade dos anos 1940/50. E nos perfis que dele tentamos, temos outro retrato de época". Foto.

Escritores em botão...

Meu visitante matutino
citou alguns nomes...

Nesse informe, "flutuando entre névoas esgarçadas", desenha-se pouco a pouco a figura de Sezefredo das Neves: "lentamente foi se delineando todo um período da minha vida. Melhor: um período conturbado (e rico, percebo agora) da vida de um grupo de jovens, todos nós. Sintetizando: fim da guerra, fim da ditadura getulista, fim da adolescência, busca de caminhos, numerosas influências se entrechocando, jovens e ex-jovens querendo abrir espaço, encontrar um caminho, um lugar na vida, no mundo". Com isso, o narrador (que tudo indica ser o próprio romancista) escreveu também o romance paradigmático de uma educação: "Devo, contudo, já que adiante transcrevo o que sobrou da obra de Sezefredo das Neves, situá-lo e nos situar no que se refere a leituras. (...) Meu visitante matutino já citou alguns nomes... um Neruda, um Maiakovski ... um Torga.. um Rilke (...). Também na prosa. Algunmas leituras basilares ... Machado e Eça, Manuel Antônio de Almeida e Camilo, Raul Pompéia e Simões Lopes Neto ... Ulisses, na tradução argentina de J. Sallas Subirat ... descobrimos Proust (...) " – enfim, todas as leituras febris e insaciáveis que os jovens pálidos do mundo inteiro vêm repetindo a cada geração. Foto.

Escritores em botão...

Lê o meu que
eu leio o teu...


Sendo, na realidade, um escritor malogrado, se não um intelectual maninho, Sezefredo das Neves foi, sem querer e sem saber, e sem que o soubesse ou quisessem os seus amigos, o centro catalítico de todos eles: "Toda uma geração, a minha, que gravitou na Florianópolis das décadas de 1940-50, deve-não-deve devendo àquele Sezefredo das Neves, poeta, que um dia tachamos de ridículo sem nos apercebermos de que o ridículo é (como o sublime) um componente do ser humano e se encontra presente em todos nós". Em certo sentido (em largo sentido...) o trágico sublime estava em Sezedredo das Neves, enquanto o inevitável ridículo que o acompanha cabia à adolescência literária: "Todos ensaiam os primeiros escritos, têm sempre à mão o último texto manuscrito, rabiscado, ilegível às vezes, mostram-no, inseguros ou confiantes, num eterno trocar de experiências repetem e repetem e repetem o insubstituível ‘lê o meu que eu leio o teu’, trocam elogios insinceros, raros reparos que não se aceitam, pensa-se é despeito daquele sacana o meu é muito melhor, ficam a se medir, da próxima vez ele tem que falar primeiro se me elogiar eu também elogio se não vai ver só. Logo a simples troca de leituras não basta, querem mostrar o que produzem para além da turminha, será que não conseguimos furar o esquema dos jornais, melhor do que aquelas cavalgaduras que ocupam as páginas nós fazemos". Foto.

Escritores em botão...

Muitos os chamados...

Querendo pertencer à igrejinha, Sezefredo das Neves não foi aceito, faltando-lhe submissão e complacência: "Volto a procurar o grupo de jovens intelectuais – serão isso mesmo ou por enquanto fingem-se de? Talvez faça amizade com alguns deles, uma amizade pra valer. Vejo que buscam saídas, se reúnem mais, perderam a empáfia, discutem literatura, cinema, teatro, artes plásticas, música, mulheres, a vida, o diabo. Bebem. Discutem. Brigam. Se reconciliam. Riem. Se agridem. Varam a noite se juntando e separando nos bares, nas praças. Zombam dos mais velhos. Os mais velhos já os identificam e desprezam. Criam áreas de atrito com os chamados ‘papas da literatura catarinense’ ".
Ele foi ou é o protótipo de todo o grupo, criado "lá por 1952/53 ..." figura para nós risível: "Um protótipo que o contivesse mas que por igual contivesse parcela do que de mais insatisfatório havia em nós, em todos os amigos e conhecidos, com nossas indecisões, nossas buscas, nossas imperfeições, nosso egoísmo, nossas incertezas, nossos sonhos, nossas esperanças, nossas frustrações. (...) Afinal me interrogo, Sezefredo das Neves, enquanto poeta, enquanto contista, enquanto memorialista, enquanto autor, enquanto figura física... não terá sido uma criação ficcional de todos nós ... uma projeção nossa? ". A devastadora ironia final está no duplo desenlace: por um lado, o poeta sublime, o gênio desconhecido, que troca tudo pela "vida prática" e, por outro, o grande escritor cujas obras não chegam a convencer no plano da qualidade, ele mesmo um impostor: "Caso de Sezefredo das Neves. Sejamos francos: poeta medíocre, contista nem razoável", segundo o veredito de Ody Fragra, personagem real e figura destacada do Grupo Sul. Também na história das gerações, são muitos os chamados e poucos os escolhidos. (Wilson Martins, Jornal do Brasil, Caderno Idéias, 18/MAR/2006. Foto.)

Seja bem-vindo


Apresentação

Agora Natal serve de base de lançamento para artistas e produtores culturais que não dispõem de condições para estar pagando "jabá" ou outros tipos de suborno para aparecer na mídia. Será o canal para todos que produzem arte e cultura, seja no Rio Grande do Norte, no Brasil ou no mundo e sentem bloqueada sua visibilidade.
Escreva pra gente, aqui.

-->
Links
archives
http://celebridades.uol.com.br
http://gay.uol.com.br