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Jornalista, produtor cultural.

domingo, agosto 05, 2007

Assis Marinho: SOS de um artista

Entrevista a Paulo Augusto
Fotos: Antonius Manso

Uma das maiores expressões da pintura norte-rio-grandense, cujo nome consta dos guias oficiais das artes plásticas, como aquela assinada por Dorian Gray Caldas, que elaborou um Dicionário das Artes Plásticas no Rio Grande do Norte, Assis Marinho, um referencial do mundo artístico potiguar, praticamente pede socorro, por sentir-se desprestigiado e desprezado. Nascido em São João do Sabugi, hoje com 47 anos, teve no seu pai, que também era artista autodidata, que desenhava e era escultor, um exemplo para dedicar-se na profissão que iria projetá-lo no futuro. O pai, homem da boemia, falecido ainda cedo, devido a extravagâncias, deixou ao filho, além da arte e do dom de sobreviver, um traço boêmio que hoje está a perturbar a desenvoltura de grande artista que é Assis Marinho.
Dois críticos das artes plásticas potiguares, hoje, tecem loas e aplaudem seu trabalho, apesar de um deles, Antônio Marques, que o descobriu e o apoiou, lamentar e exortar o artista, veementemente, para equilibrar os momentos de devotação ás artes e os instantes de entrega ao deus grego Dionísio. A seguir, os dois depoimentos. Abaixo, entrevista do editor do Encartes, Paulo Augusto, com Assis Marinho. (Foto: Assis Marinho, a esposa Joane e a filha.)

Assis Marinho: SOS de um artista

O que diz Antônio Marques:
"Assis Marinho é um grande pintor, uma pessoa de muito talento. Ele esbanja e desperdiça talento. É um pintor feito por ele mesmo. Não freqüentou escola, é um autodidata. Dormia nas ruas, desenhava pelas calçadas, até que enfim se tornou um pintor, com uma produção fantástica. Ele se enquadra na perspectiva de continuidade do trabalho de Newton Navarro, de quem foi amigo e discípulo. Um pintor que teve tanta dificuldade para expor.
O trabalho de Assis Marinho é mais na linha expressionista. O estilo dele é expressionista. Ele consegue explorar essa vertente, com traços bem exagerados dos olhos, da boca. Ele já reencontra Leopoldo Nelson, que também era expressionista. Ele tem um desenho próximo de Newton e se aproxima de Leopoldo pelo estilo expressionista.
Teve fases de grande produtividade. O auge da produção de Assis Marinho foi a produção do anos 90. Mas, devido às extravagâncias, não tem como fazer um trabalho de peso. Mas ele tem todas as condições. Agora, ele precisava melhorar a saúde, para voltar a produzir com mais vigor e com maior repercussão.
O melhor de Assis Marinho foi produzido nos anos 90. Ele precisava de mais cuidado com a saúde, dar mais limite para a boemia. Ele mesmo se dar limites. Ele é muito jovem, não chegou aos 50 anos, está em plena maturidade. Se produziu muita coisa boa, tem condições de oferecer outro tanto." (Foto: Antonius Manso)

Assis Marinho: SOS de um artista

Repercussão do Trabalho
"Eu mesmo tive ocasião de levar Assis para o Pavilhão da Bienal, em São Paulo, no final dos anos 80. Em São Paulo, seu trabalho despertou o interesse de muitos marchands, que o procuravam. Fez muito sucesso, foi muito procurado pelos marchands. Ele teve também uma temporada em Brasília, outra em João Pessoa, sempre com muito sucesso onde passou. Agora, o trabalho artístico tem que ter disciplina, continuidade. E Assis se deixa muito levar pelo lado da boemia. Não impõe um limite entre a boemia e a arte. Newton Navarro era boêmio, mas sabia diferenciar as horas de boemia e de dedicar-se aos estudos. Na hora de se dedicar, tem que se dar o limite." (Antonio Marques) (Foto: Desenho de Assis Marinho, foto de Antonius Manso)

Assis Marinho: SOS de um artista

O que disse Vicente Vitoriano:
("Cores do sertão" - Texto publicado no Diário de Natal, Coluna Artes Plásticas, Caderno Muito, em 11.02.99.)
"Surpreendo-me em conversa com Assis Marinho, com a clareza com que ele consegue justapor suas experiências estéticas, vivenciais e artísticas numa espécie de filosofia que aponta mais nitidamente para um arraigado contato com as figuras humanas e a paisagem do sertão. Sua fala, especialmente ao descrever ou a planejar imagens, transborda uma poesia simples capaz de me fazer, além de "ver" o que ele elabora verbalmente, sentir calor e vento, sentir sede.
"De repente, como conseqüência de tal justaposição, vejo-me analisando os processos de realização das imagens seja com aquarela, com cera e pastel ou tinta a óleo. Acompanho o artista resolvendo no ar figuras coloridas sobre superfícies que ele também descreve como se preparam, sejam telas ou planos de papel; resolvendo deficiências que descobre nos materiais em função de concluir satisfatoriamente aquilo a que ele se dispõe. Assis transita por estas técnicas – de desenho, de pintura e preparação de suportes. Com elas, o artista multiplica imagens que ele tem recolhido na memória e as reencontra para reconstruir sua infância cheia de jogos e de folguedos, alguns deles já registrados por Di Cavalcanti ou, entre nós, por Socorro Evangelista e Dorian Gray." Foto: Assis Marinho e Plínio Sanderson, foto de Hugo Macedo.)

Assis Marinho: SOS de um artista

"São trabalhos nos quais vai sendo configurada uma espécie de 'branda' sofisticação técnica e formal conseguida a partir de uma 'dura' batalha cotidiana de fazer artístico. São brincadeiras que a vida citadina cuidou de, em as esquecendo, poetizá-las ou, no pior dos casos, folclorizá-las no abjeto sentido de tê-las como coisas resgatáveis e curiosas. Assis, como os artistas citados, retoma este tema dando-lhe uma outra dimensão. Tudo nele, deve-se perceber como extremamente importante, é perpassado pelo vivido. É, portanto, algo visceral, alguma coisa que deve surgir com uma certa dor, dor esta no mínimo de saudade. Sem medo de modismos contemporâneos e talvez num libelo de regionalização ante a voracidade do globalizado, Assis continua mostrando uma arte viva, reflexo profundo de sua terra e de sua gente." (Ilustração: Capa de folder.)

Assis Marinho: SOS de um artista

Entrevista ao jornalista Paulo Augusto
Paulo - Assis, gostaria que você falasse sobre a arte de Thiago Vicente. Vocês trabalharam juntos? ou trabalham? Que tipo de influência você exerceu sobre ele?

Assis Marinho - Thiago, como Dandã e Diego, foram crianças cultivadas ao longo de muitos anos. E na pequena granja do finado Chico Miséria. Foi onde eu os alimentava de ar e alimentação. Eu preparava as comidas para eles. E eles foram sendo incentivados com cuidados e carinho, com todo o respeito. Só não os matei afogados, porque eu gostava muito. mas era pra ter matado aqueles meninos tudinho... Help, eu pelo desculpa a Help.
Mas foram crianças cultivadas com carinho e com toda satisfação do que eu pude fazer.
Entre eles, Thiago Vicente foi quem desenvolveu uma condição melhor para se tornar o que ele está desenvolvendo hoje. Porque, na realidade, ele ainda não conseguiu se prontificar (se aprontar, profissionalizar), mediante as condições de, na realidade assumir uma postura, em condições reais. Porque ele é, na realidade, uma criança que está aprendendo a somar as coisas da vida.
É diferente de como Newton Navarro, em 69, me dizia: "Eu vou perecer, mas você vai se tornar um dos artistas grandes do Rio Grande do Norte". Eu digo: eu não quero ser grande. Eu só quero cultuar aquilo que eu venho desenvolvendo, e oferecer ao longo dessa minha vida as condições para poder fecundar e extrair possibilidades daqueles que são assuntados, mediante a pintura e a cultura. E ilustrar os nossos dicionários a nível potiguar.
Então, eu tenho uma relevância muito dadivosa. Mas todos nós somos aprendizes. Aprendizes daqueles que aprendem a sonhar. E um sonho que se sonha só, não é um sonho que se sonha só, mas um sonho que nós sonhamos juntos. Porque aí aprendemos a somar. Então, tenho a satisfação de dizer e além disso. Se isso for publicado, peço à governadora que me dê uma aposentadoria. Com 37 anos a 40 de arte no Rio Grande do Norte. Será que um artista autônomo vai ver os filhos morrerem de fome? Porque a minha amiga Wilma maia não tem a condição de chegar junto. Será que ela vai chegar junto. Ora, já bastam outras coisas?
Paulo - Como é que está o mercado para a pintura? A música está muito bem. Mas e a pintura?
Marinho - Bem. Mediante a relevância da sua pergunta, eu imagino a seguinte forma. É o mesmo mercado de como eu vejo Antonius Manso, como eu vejo você, como um maestro. Antonius como um fotógrafo de uma qualidade excêntrica. Você como - deleita-se qualquer um que lê seus textos, porque são avantajados e alinhados de fórmulas, de fibras, de alto nível, e de condições superior a quaisquer coisas...
Paulo - Fale do mercado.
Marinho - Aí, é a mesma relevância, da mesma forma. Da forma como você age e se propõe e dispõe, e realiza as coisas. É a forma que eu realizo a arte. Como você faz, eu pinto. E como Antonius fotografa, eu pinto. Então, a virtude é aquilo que nós não temos o sabor de saborear as condições para vivermos sossegados.
Paulo - Quando é que você prepara uma exposição individual?
Marinho - Amor, eu tenho trabalhos. Eu venho me aprochegando de uma série de Dom Quixote de La Mancha. Comecei a me introduzir dentro da obra de Cervantes. Depois, penetro na obra dos retirantes. E são cousas que são desenvolvidas com o acalento da nossa natureza e do carinho.
Paulo - Mas você acha que tem que ter o apoio oficial, ou de entidade privada, de alguma instituição, para que você tenha um patrocínio para fazer essa exposição?
Marinho - (risos) Olhe, eu não estou ainda no anonimato (ostracismo).

Assis Marinho: SOS de um artista

Paulo - Quando foi sua última exposição? Faz tempo?
Marinho - A última foi no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, em 83. E me levaram ainda de ônibus, enquanto os outros foram tudo de avião. E eu passei três dias para chegar e ainda quiseram me colocar numa condição que eu não queria ficar. Sei lá, era coisa (república) de estudantes. Aí eu digo: não. Então, eu vou pegar meus quadros e vou voltar para o Rio Grande do Norte, vou ficar perto de Paulo Augusto, que é melhor e de outras pessoas. Independente disso, é o seguinte: eu vou suprir o que você está... O que você tende (intenta) é que, na realidade, nós necessitamos. Você vê as vergonhas nas Câmaras de Vereadores. Você as vergonhas nas deputâncias estaduais. Você vê a vergonha a nível de ministério, a nível de Senado, a nível de país. Você vê como somos - tá entendendo? - enrolados por sem-vergonhas, indecentes - tá entendendo? -, nós somos fraquejados (submetidos, constrangidos, subjugados). Porque não podemos dizer aquilo, porque somos aprisionados. Enquanto alguém rouba uma porqueira de nada, eles roubam as comidas e as alimentações das crianças e a realidade de nossa vida. Tá entendendo? Então, nós necessitamos, na realidade, de termos a nossa virtude, para podermos crescer. Porque, através da existência, da integração social e a virtude, nós poderemos ser gente, com a nossa cultura. (Ilustração: Cantoria com Viola.)

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